Sublimation, Girl!

=D

Tuesday, March 09, 2010

Dou-lhe aquilo que você puder me oferecer

Bauman dissertou sobre esse tema em “Amor Líquido”. A pós-modernidade é cercada e permeada por esse signo. Atualmente, enquanto as pessoas ou objetos são úteis ao sujeito, o mesmo os mantém intactos em sua vida, do contrário, eles são descartados como resto de algo que não deu certo, não foi funcional.

Tal lógica agride a idiossincrasia das pessoas e elimina o que há de criativo, inovador, de certa forma, surpreendente nas relações: as atitudes espontâneas e as infinitas possibilidades de existir entre duas pessoas.

O imaginário de um amor perfeito e sem falhas é muito bem pintado pelas telas de cinema, pela mídia e pela televisão. Tal fato pode ser evidenciado pelos modelos que mulheres e homens devem perseguir constantemente sob pena de serem excluídos da possibilidade do amor romântico, que por si já é um outro ideal.

Ser amado pelo outro é um desejo de todos. É necessidade inerente ao ser humano: nos constituímos por ele e é através dele também que nos diferenciamos e nos mantemos como sujeitos falantes e da linguagem. É através dessas identificações e diferenciações que conseguimos nos constituir e, constantemente, nos reconstruir como seres humanos.

Ser igual ao outro, dar-lhe aquilo que o outro possa oferecer é resquício narcísco, ou de reivindicação infantil. Esse ideal de resposta pouco nos desenvolveria como sujeito: iria nos manter em uma postura infantil sem possibilidade de transformação, por não trazer o inesperado e por não nos fazer nos adaptar à realidade, que, sinceramente, está longe de ser a ideal.

Desde tenra idade buscamos a diferença que nos faça ser amados e especiais. Porém, adultos, buscamos uma equidade que sabemos de início ser impossível, por uma única razão: nós não somos iguais. Nunca fomos ou seremos completos e, mais além, sozinhos, desamparados, precisaremos enfrentar os nossos anseios, nossas dúvidas e a principal questão que nos move: o que somos para o outro.

Claro que a relação saudável é possível e o amor existe. Só não existe o ideal romântico de relação. “Dou-lhe aquilo que você puder oferecer” é um mal da nossa geração individualista e narcísica. Para viver um amor real é melhor começar a exercitar a lógica do “aceito de bom o grado o que puder me oferecer, ao passo que ofereço, sem equiparação, aquilo que tenho a compartilhar.” E quantas descobertas poderemos viver assim!...